Um dia desses liguei a TV e me deparei com um documentário afetivo e sexual das mulheres. Acho que eram americanas, não lembro. A câmera circulava por uma festa, e de vez em quando colhia o depoimento das convidadas. Uma delas, lindíssima, estufou o peitão, segurou firme o microfone, e deu seu parecer sobre o homem ideal. Disse ela que se um cara bonito lhe pedir dez dolares emprestados ela nunca mais olha na cara dele, mas se um velho decrépito convidá-la para dar uma volta no seu jatinho, na mesma hora ele vira um príncipe. E sorriu sedutoramente para a câmera, como quem pergunta:
"Não é assim com todas?"
É uma pena que as histórias de amor estejam decaindo. Uma boa parcela de mulheres já não está a fim de esperar o coração dar as ordens. Antes disso, elas estabelecem suas prioridades e se engatam em quem melhor lhes convier, transformando em príncipe aquele que for capaz de fazer o milagre da multiplicação da conta bancária ou de alçá-las para o topo da pirâmide social. Sentimento, hoje em dia, só atrapalha.
Teoricamente, isso nos horroriza, certo? Então deveríamos soltar foguetes ao ouvir a notícia de que um príncipe de verdade, em vez de escolher - outra vez - uma noiva jovem, linda e cheia de fragilidades, resolveu se casar com uma mulher madura de 57 anos, totalmente fora dos padrões de beleza, mas com o mérito de ter sido, desde sempre o grande amor da sua vida. Charles e Camilla, os próprios. Alguém lembra?
No entanto, desde que eles anunciaram seu casamento, no começo do ano passado, só o que se ouviam eram piadas cretinas sobre a falta de gosto do príncipe. Como ele tem coragem de se casar com um tribufu, um canhão, uma baranga? - para citar apenas alguns dos delicados adjetivos com que Camilla foi presenteada pela imprensa e pelas conversas de bar. Por outro lado, não ouvi nenhuma mulher se perguntar: como é que Camilla foi se interessar por aquele songamonga?
Canhões e songamongas não enfeitam capas de revista nem fazem revelações picantes para a TV, pois a vida deles é maçante e o que interessa hoje é beleza, sexo e dinheiro. O amor virou a coisa mais antiquada do mundo. Paixão, vá lá, ainda mantém um certo status porque promove mudanças, porque excita e enlouquece, porque é antagônica, esquizofrênica, deslumbrante, mas amor? E ainda por cima amor de uma vida inteira? Eca. Amor é retilíneo, pacífico, sem surpresas, duradouro demais, e portanto tedioso pra quem está de fora. E é pra quem está de fora que a maioria das pessoas joga.
Então, casaram-se dois feiosos numa cerimônia very british e isso só foi notícia porque tratava-se de um importante membro da monarquia inglesa, viúvo de um dos maiores ícones do século XX, mas que teve o mau gosto de insistir num relacionamento com uma mulher feia e por um motivo mais que aborrecido:
porque a ama.
Realmente, sentimento só atrapalha.
Ao menos, sonhem mais!
Beijo ♥